Ser um doador de órgãos é um gesto incrível que pode dar uma nova chance de vida a quem precisa. No Brasil, mais de 65 mil pessoas aguardam ansiosamente por um transplante de órgãos. Para conseguir um coração novo, a espera varia de 2 a 18 meses. Mas isso pode mudar.

Neste artigo, vamos lhe explicar tudo o que você precisa saber sobre como se tornar um doador de órgãos e como funciona o processo. Continue lendo e faça a diferença!

Saiba como funciona a doação de órgãos

Para aqueles que ainda têm dúvidas sobre a doação de órgãos, entender o processo pode ser o primeiro passo para considerar essa ação solidária e, até mesmo, influenciar amigos e familiares a se tornarem doadores também.

A doação de órgãos ocorre em casos de morte encefálica, que é quando uma parte essencial do cérebro para de funcionar. Nesse momento, os órgãos ainda permanecem funcionando temporariamente, pois o coração continua a circular o sangue. No entanto, se o coração parar de bater, apenas as córneas podem ser doadas.

Após a confirmação da morte encefálica, a família é abordada por uma equipe de profissionais de saúde. Eles explicam todo o processo de doação e solicitam o consentimento da família. Somente após obter esse consentimento é que os órgãos podem ser doados e enviados para pacientes que estão na lista de espera.

E como funciona a lista de espera para a doação de órgãos?

A lista de espera é única e organizada por estado ou região, sendo controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Mesmo que os pacientes na fila estejam em unidades de saúde particulares, todos eles são incluídos na mesma lista, organizada por ordem cronológica e considerando fatores como prioridade e compatibilidade.

A principal diferença entre as unidades particulares e públicas está no financiamento da cirurgia de transplante, bem como nos custos de exames e hospitalização. Nas unidades particulares, esses custos são cobertos por convênios médicos ou pagos de forma particular.

Quais órgãos podem ser doados?

Diversos órgãos podem ser doados e mudar completamente a vida de alguém. Olha só:

  • Coração: o transplante de coração pode salvar a vida de pessoas com insuficiência cardíaca grave. Após o transplante, o receptor pode recuperar uma vida ativa, voltando a realizar atividades que antes eram limitadas pela doença.
  • Válvulas cardíacas: as válvulas cardíacas são essenciais para o bom funcionamento do coração. O transplante dessas válvulas pode restaurar a função cardíaca, permitindo que o receptor tenha uma vida mais saudável.
  • Pulmões: esse transplante é uma esperança para aqueles que sofrem de doenças pulmonares graves, como fibrose cística, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e enfisema. Para eles, a doação significa a possibilidade de respirar com mais facilidade e realizar atividades cotidianas sem dificuldades respiratórias.
  • Rins: o transplante de rim é feito para ajudar pessoas com hipertensão, diabetes, insuficiência renal crônica e outras doenças renais. Ele permite que o receptor deixe de depender de tratamentos como a diálise, retomando a função renal e uma vida mais independente.
  • Pâncreas: o transplante de pâncreas geralmente é realizado junto com o transplante de rim. Esse procedimento é destinado a pessoas com diabetes grave e problemas renais, eliminando a necessidade de insulina e diálise.
  • Fígado: o transplante hepático pode salvar vidas de pessoas com cirrose hepática avançada, proporcionando uma vida livre dos sintomas da doença.
  • Medula Óssea: a doação de medula óssea é essencial para tratar doenças do sangue, como a leucemia. Ela oferece a chance de uma recuperação completa e a retomada de uma vida ativa.
  • Ossos: os ossos doados são valiosos para implantes dentários, tratamento de lesões na coluna e substituição de ossos danificados. Eles podem restaurar a mobilidade e aliviar a dor em casos de lesões graves.
  • Córneas: o transplante de córneas pode restaurar a visão em pessoas que sofrem de doenças da córnea, como ceratocone e distrofia do endotélio. Após o procedimento, elas podem voltar a enxergar com nitidez e clareza.
  • Pele: a doação de pele é vital para o tratamento de queimaduras extensas e doenças dermatológicas graves. Ela ajuda a reparar a pele danificada, reduzindo a dor e melhorando a qualidade de vida.

Quem pode doar

Para se tornar um doador de órgãos, basta ter mais de 18 anos, estar em boas condições de saúde e passar por uma avaliação médica que leva em consideração fatores como a causa da morte clínica, tipo sanguíneo e outros aspectos essenciais para determinar a viabilidade da doação e a compatibilidade com receptores em potencial.

Quem não pode ser doador de órgãos

A princípio, não há restrições absolutas para a doação de órgãos, mas algumas condições específicas podem impedir a doação. Isso inclui:

  • Portadores de doenças infectocontagiosas, como HIV, hepatites B e C, Doença de Chagas, entre outras.
  • Pessoas com doenças degenerativas crônicas ou tumores malignos.
  • Pacientes em coma ou com sepse (infecção generalizada) ou insuficiência de múltiplos órgãos e sistemas (IMOS).
  • Fumantes não são considerados doadores adequados de pulmão.

Além dessas condições, existem outros fatores que podem ser considerados caso a caso pela equipe de transplante.

Doação de órgãos em vida

Além da doação em casos de morte encefálica, também é possível ser um doador de órgãos ainda em vida. Os órgãos e tecidos que podem ser doados por um doador vivo incluem:

  • Rim: como os seres humanos têm dois rins, é possível realizar a doação de um deles em vida. O procedimento é seguro, e tanto o doador quanto o receptor podem continuar com suas vidas de maneira normal após a doação.
  • Medula Óssea: a medula óssea, conhecida como “tutano”, é um tecido líquido-gelatinoso encontrado dentro dos ossos. Ela desempenha um papel fundamental no tratamento de doenças sanguíneas, como a leucemia, podendo até resultar na cura completa do receptor. A doação pode ser obtida através da aspiração direta do osso ou da coleta de sangue, sendo que nenhum desses métodos causa dor. Após a doação, é possível voltar às atividades habituais após a primeira semana.
  • Fígado: o fígado é um órgão que se regenera e, por isso, partes dele podem ser doadas em vida. É possível doar até metade do órgão.
  • Pulmão: embora o pulmão não tenha a capacidade de regeneração, pequenas partes dele podem ser doadas em vida sem representar um risco para o doador.
  • Cordão umbilical: também é possível doar o sangue do cordão umbilical, que será usado para extração de células tronco. Não existe nenhum risco para a mãe e o bebê e não há nenhuma interferência no momento do parto. No entanto, existem alguns requisitos que precisam ser cumpridos. Saiba mais.

Para se tornar um doador de órgãos em vida, é necessário ser maior de idade e ter capacidade jurídica, ou seja, a capacidade legal de tomar decisões por si mesmo.

Além disso, exceto no caso da doação de medula óssea, apenas familiares diretos, como pais, irmãos, filhos, avós, tios e primos, têm permissão legal para doar órgãos em vida aos seus parentes. Quando se trata de doadores não aparentados, é necessário obter uma autorização judicial.

A compatibilidade sanguínea é um fator crítico em todos os casos de doação de órgãos, pois ela ajuda a evitar a rejeição do órgão transplantado. Atualmente, são realizados testes especiais para selecionar o doador com maior probabilidade de sucesso na doação, garantindo que o procedimento seja seguro e eficaz para ambas as partes envolvidas.

Para ser um doador em vida, você pode se cadastrar em instituições como a Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote) e o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME).

Carteirinha de doação de órgãos

Ter uma carteirinha de doação de órgãos é uma forma prática de manifestar esse desejo e informar aos seus familiares sobre sua intenção. Aqui estão algumas instituições onde você pode conseguir a sua:

  • ADOTE (Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos): para obter sua carteirinha de doação de órgãos pela ADOTE, você precisará criar uma conta no site da organização. Após esse processo, você será direcionado para uma página onde poderá encontrar a opção ‘minha carteirinha’. Basta clicar nela e sua carteirinha estará pronta para ser salva em formato PDF no seu celular, computador ou tablet. Você também pode compartilhá-la em suas redes sociais ou imprimi-la.
  • REDOME (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea): o REDOME emite uma carteira e uma declaração de doador como meios de comprovação de cadastro. Você pode obtê-los fazendo o download do aplicativo REDOME disponível para Android e IOS e fornecendo seus dados de identificação. Outra opção é entrar em contato com o Hemocentro do seu estado para obter esses documentos.
  • BOS (Banco de Olhos): no caso do Banco de Olhos, não é necessário fazer um cadastro. Basta preencher os campos indicados no site e baixar a imagem em PDF da sua carteirinha em seu dispositivo móvel, computador ou tablet.
  • Doar é Legal: este projeto disponibiliza uma certidão (sem fins jurídicos) que pode ser enviada a familiares e amigos para informá-los sobre sua decisão de ser um doador de órgãos. Para obtê-la, basta visitar o site do projeto, inserir seu nome, CPF, cidade e estado e finalizar o cadastro. Em seguida, você poderá imprimir, assinar e entregar a certidão ou enviá-la por e-mail para seus entes queridos.

É importante lembrar que a carteirinha de doação de órgãos, embora seja uma maneira significativa de expressar seu desejo, não garante a doação por si só. A autorização da família é fundamental e será discutida em detalhes posteriormente.

Carteira de Identidade Nacional

Outra forma de se identificar como um doador de órgãos é por meio da nova Carteira de Identidade Nacional (CIN). Esse documento, conhecido popularmente como “RG único”, unifica dados por meio do CPF e permite incluir informações de saúde, tipo sanguíneo, além da informação sobre doação de órgãos.

Importante: até o momento em que escrevemos esse artigo (setembro de 2029), a Carteira de Identificação Nacional ainda estava em fases de implementação e não estava disponível em todos os estados.

Autorização familiar: sem ela, a doação não acontece

No Brasil, a doação de órgãos é regulamentada pela Lei nº 9.434/2007, que estabelece procedimentos para a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano com fins de transplante e tratamento. De acordo com o Artigo 4º dessa lei:

“A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.”

Isso significa que, mesmo que alguém tenha manifestado o desejo de ser um doador em vida, seja por meio de documentos como carteirinhas ou certificados, a autorização familiar é necessária, a menos que uma autorização judicial seja solicitada e concedida.

Dê o sinal verde para a doação de órgãos

Em 2022, mais de 45% das famílias no Brasil se recusaram a autorizar a doação de órgãos de seus entes queridos. Esse momento, de luto e decisão, pode ser muito desafiador para elas, e a recusa muitas vezes ocorre por falta de informações sobre o processo ou por equívocos relacionados à doação.

É por isso que o diálogo e o compartilhamento de informações são fundamentais. Conversar com a família sobre sua decisão de ser um doador de órgãos enquanto você está saudável pode ajudar a esclarecer dúvidas e facilitar o processo quando o momento chegar.

Vale ainda, desmentir mitos, como o fato de que a religião seja um impedimento. Na verdade, todas as organizações religiosas aprovam a doação de órgãos e tecidos e a consideram um ato de caridade. Além disso, os órgãos são removidos cirurgicamente e o processo não desfigura o corpo, nem altera a aparência do doador.

Embora projetos de lei estejam em tramitação para simplificar o processo de doação em casos em que a pessoa tenha deixado um documento comprovando seu desejo de ser doador em vida, atualmente a autorização familiar ainda é obrigatória. Por isso, é importante que você dê o sinal verde para a doação de órgãos. Confira abaixo o nosso vídeo sobre o tema!

https://youtu.be/_6DbejOiRmo

Fontes: