Você já ouviu falar sobre as deficiências ocultas? Essas condições, embora não sejam imediatamente visíveis, podem afetar profundamente a vida de quem as têm. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 1 em cada 6 pessoas em todo o mundo possui algum tipo de deficiência, o que equivale a cerca de 1,3 bilhão de indivíduos.
No entanto, devido à sua natureza não aparente, as deficiências ocultas muitas vezes passam despercebidas, resultando em mal-entendidos e desafios significativos em diversos aspectos da vida. Continue a leitura e entenda melhor o tema!
O que são deficiências ocultas?
Quando falamos em deficiências e acessibilidade, é natural que venham à mente imagens de cadeiras de rodas, rampas e barras de apoio, associadas às deficiências físicas que geralmente são visíveis. No entanto, existe um mundo de desafios que não se revelam imediatamente. Estamos falando das chamadas “deficiências ocultas”.
Embora o termo ainda não seja amplamente difundido no Brasil, essas condições não são novas. Pessoas que lidam com esquizofrenia, TDAH, Doença de Lyme, Autismo, deficiências auditivas e muitas outras condições enfrentam desafios que não são prontamente perceptíveis. Elas estão ao nosso redor há muito tempo.
O movimento que está ganhando força visa conscientizar a todos sobre o fato de que, mesmo que essas deficiências não sejam visíveis à primeira vista, elas têm um impacto profundo nas vidas das pessoas que as enfrentam. E, assim como qualquer outra pessoa, merecem inclusão, acolhimento e empatia.
Barreiras e desafios diários
Para entender a importância da inclusão de pessoas com deficiências ocultas em nossa sociedade, é essencial explorar uma realidade que nem sempre recebe a devida atenção. Um artigo do New York Times trouxe à tona situações que destacam essas dificuldades:
- Muitos pais de crianças autistas relatam a dificuldade de estar em locais públicos quando uma criança que parece neuroatípica subitamente enfrenta um colapso devido à sobrecarga sensorial. O julgamento, conselhos não solicitados e até repreensões por parte das pessoas tornam essas situações ainda mais desafiadoras.
- Pessoas com esquizofrenia, embora raramente representem ameaça à segurança, frequentemente se deparam com desconforto e até violência devido a comportamentos que fogem do comum.
- Aqueles com epilepsia enfrentam julgamentos quando necessitam ser isolados de situações de alto estresse devido ao risco de ataques epiléticos.
- Indivíduos com depressão são estigmatizados e julgados quando não conseguem ser completamente eficientes em dias difíceis.
- Alunos que recebem tempo extra em provas e atividades às vezes enfrentam o cinismo de seus colegas, o que pode levá-los a optar por não usar essas adaptações.
Esses são apenas alguns exemplos de barreiras e dificuldades que as pessoas com deficiências ocultas enfrentam. Ainda assim, não é incomum que sejam questionadas quando estão em filas preferenciais, assentos prioritários e outras situações. Por isso, precisamos conscientizar as pessoas de que existem deficiências que não são rapidamente percebidas.
Cordão de girassol: o que é e como funciona?
Você já ouviu falar no cordão de girassol? Se não, vamos esclarecer o que é e como funciona essa iniciativa incrível que visa tornar a vida de pessoas com deficiências ocultas mais acessível.
Tudo começou em 2016, no Aeroporto de Gatwick, na Inglaterra, quando surgiu a preocupação em facilitar o acesso aos direitos para pessoas com deficiências ocultas. A solução? A criação de um cordão com girassóis em um fundo verde, que permite identificar esses passageiros.
Essa ideia logo se espalhou e deu origem à Hidden Disabilities Sunflower (HD Sunflower). Hoje, esse símbolo é amplamente reconhecido ao redor do mundo.
No Brasil, o uso do cordão de fita com desenhos de girassóis foi oficializado por lei como o símbolo nacional de identificação das pessoas com deficiências ocultas. É importante saber que o uso do cordão não é obrigatório e não dispensa a apresentação de um documento que comprove a deficiência, quando solicitado.
Lista de deficiências ocultas
Uma das dúvidas frequentes em relação ao cordão de girassol é quem pode usá-lo. A HD Sunflower e o site Disabled World disponibilizam listas abrangentes de condições que são consideradas para identificação. Abaixo, você confere um breve resumo:
- TDAH
- Anosmia (Perda do olfato)
- Asma
- Autismo
- Transtorno bipolar
- Lesões cerebrais
- Câncer
- Doença de Charcot-Marie-Tooth
- Malformação de Chiari
- Doença Celíaca
- Doença de Crohn
- Depressão
- Deficiência auditiva
- Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (DLD)
- Diabetes
- Síndrome de Ehlers-Danlos
- Epilepsia
- Fibromialgia
- Hipertensão Intracraniana
- Cistite intersticial
- Doença de Crohn
- Lúpus
- Doença de Lyme
- Síndrome metabólica
- Misofonia e transtorno de processamento sensorial
- Esclerose múltipla
- Sensibilidade Química Múltipla
- Narcolepsia
- Transtornos de personalidade
- Imunodeficiência primária
- Distrofia Simpática Reflexa
- Artrite reumatoide
- Síndrome de Schnitzler
- Esquizofrenia
- Esclerodermia
- Síndrome de Sjogren
- Neuropatia Sensorial de Pequenas Fibras (SFSN)
- Distúrbios da coluna vertebral
- Neuralgia trigeminalf
- Colite ulcerativa
Essas são apenas algumas das condições listadas por essas organizações e que podem ser identificadas com o cordão de girassol, ajudando a tornar a vida de quem vive com deficiências ocultas mais acessível e inclusiva.
E as condições que não são consideradas deficiências no Brasil?
Entender o que é considerado uma deficiência pode variar de país para país. Cada nação tem suas próprias leis e regulamentações que definem esse conceito. Nos Estados Unidos, a Lei dos Americanos com Deficiências de 1990 (ADA) estabelece que uma pessoa com deficiência é alguém que tem uma deficiência física ou mental que limita substancialmente uma ou mais atividades importantes da vida, tem registro de tal deficiência, ou é considerado como tendo tal deficiência.
No Brasil, a definição é semelhante, conforme estabelecido pelo Decreto Nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004. No entanto, é importante destacar que nem todas as condições que são consideradas deficiências em outros países se enquadram na mesma categoria por aqui, pelo menos ainda não. É o caso da diabetes tipo 1, por exemplo.
A Organização Mundial da Saúde considera que a deficiência tem três dimensões:
- Comprometimento na estrutura ou função corporal: isso inclui perdas de membros, perda de visão, ou comprometimento da memória.
- Limitação de atividades: refere-se a dificuldades em realizar atividades como ver, ouvir, andar ou solucionar problemas.
- Restrições de participação em atividades diárias normais: isso abrange a capacidade de trabalhar, participar de atividades sociais e recreativas, bem como acessar cuidados de saúde e serviços preventivos.
Fato é que o conceito de deficiência, principalmente das deficiências ocultas, ainda está sendo debatido, e uma das razões é a variação no impacto que essas condições têm na vida das pessoas.
Algumas podem enfrentar episódios debilitantes, enquanto outras não. Portanto, existe divergência na categorização dessas condições como deficiências, devido à complexidade e às particularidades de cada caso.
Neste cenário, o que precisamos levar em consideração é que a inclusão e a empatia desempenham um papel crucial para garantir que todas as pessoas, independentemente de suas condições, sejam tratadas com justiça e igualdade.
Como apoiar pessoas com deficiências ocultas?
Se você está se perguntando como pode contribuir para tornar o mundo mais inclusivo para pessoas com deficiências ocultas, estamos aqui para ajudar. Veja algumas dicas:
- Comece seu apoio educando-se sobre as diversas deficiências ocultas e os desafios enfrentados por aqueles que as possuem. Quanto mais você souber, mais eficaz será o seu apoio. Não se esqueça de ser empático e compreensivo.
- É importante reconhecer que nem todas as pessoas desejam compartilhar informações sobre suas condições. Respeite a decisão delas e evite fazer perguntas que possam causar desconforto.
- Pergunte como você pode ser útil. Às vezes, uma pessoa com deficiência oculta pode precisar de assistência prática, como adaptações no ambiente ou suporte em situações específicas. Esteja disposto a ser flexível para atender às necessidades individuais.
- Promova a inclusão em seu ambiente de trabalho, comunidade e vida social. Acessibilidade e igualdade são metas que todos devem abraçar.
- Muitas pessoas com deficiências ocultas enfrentam desafios emocionais. Esteja disponível para ouvir, oferecer apoio e encaminhar a ajuda profissional, se necessário.
- Algumas pessoas com deficiências ocultas podem enfrentar desafios específicos de comunicação ou comportamento. A paciência é fundamental. Além disso, encoraje as pessoas a se defenderem e a expressarem suas necessidades.
Lembrando que cada pessoa é única, e o apoio deve ser adaptado às suas necessidades específicas. Contribua para divulgar essas informações e confira também a nossa campanha “Nem toda dificuldade é visível”:
https://youtu.be/oMO2mgwzHYk?si=R7eqrL0xB2Xj1AXa
Fontes:
- https://www.cdc.gov/ncbddd/disabilityandhealth/disability.html
- https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/disability-and-health
- https://www.who.int/standards/classifications
- https://adata.org/faq/what-definition-disability-under-ada
- https://www.tre-pe.jus.br/comunicacao/noticias/2023/Julho/cordao-de-girassol-sera-usado-para-identificar-pessoas-com-deficiencias-ocultas
- https://invisibledisabilities.org/what-is-an-invisible-disability/
- https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/l14624.htm